60306671_2435705226479993_2209298432231735296_nMeu artigo  é a expressão de uma realidade e o meu desejo é apenas o de estimular a reflexão. Deixo claro que não sou contra a tecnologia, mas a favor de uma ideia que permita a convivência

Por: Roberto Parentoni, Advogado Criminalista

O Brasil conta atualmente com 1.240 cursos superiores de Direito. Dizem que o País já é o campeão mundial em número de ofertas desse tipo de ensino. Como consequência, em tese, chegam ao mercado 100 mil bacharéis por ano. Vale frisar que este pessoal recém-formado, para poder exercer a profissão de advogado, precisa antes ser aprovado pelo exame da Ordem dos Advogados do Brasil. E, sabemos todos, um número nada desprezível fica pelo caminho.

Quantos bacharéis de direito você conhece que ganham a vida praticando outra profissão? Este tema não é novo, inúmeros experts já escreveram a respeito.

Apesar disso, ele continua atual, pois o número de ofertas de cursos cresce com uma promessa que não pode cumprir para todos os seus alunos, diferentemente do que acontece em cursos preparatórios para outras profissões. Estes formandos deixam a faculdade e logo vão atrás dos empregos na área em que dedicaram os seus estudos. O bacharel em Direito não, tem obrigatoriamente que passar pelo filtro da OAB. Esta questão, obviamente, diz mais respeito aos recém-formados.

Os que já possuem a carteira, e não “carteirinha”, da Ordem e estão distribuindo suas esperanças em currículos por diferentes bancas de todo Brasil, a preocupação agora é outra, trazida pela tecnologia e imposta pela “modernidade”: os robôs. Eles chegaram de mansinho e hoje já não tem vergonha de se expor. Em muitos escritórios, cumprem funções variadas, notadamente aquelas tradicionalmente oferecidas aos jovens advogados recém-chegados ao universo jurídico e que precisam aprender na prática as rotinas diárias da profissão. Ganhar experiência!

A tecnologia e sempre bem-vinda. É inegável a sua contribuição ao cotidiano da vida. Contudo, a velocidade do seu avanço tem efeito preocupante em distintas áreas da atividade humana. Muitas vezes não existe tempo hábil para adequação. Quando é possível.

Em vários setores, como o automobilístico, por exemplo, o emprego de humanos caiu ao mínimo necessário. Esta realidade, não faz muito tempo, aportou no universo jurídico. E não demorou nada para se espraiar pelo setor. A eficácia impressiona, mas…

A preocupação maior não é com os veteranos da área, cuja atividade na banca é mais intelectual do que braçal, mas com os jovens, que estão vendo fechar uma das portas de entrada para o mercado. Estes softwares trabalham por horas seguidas e com margem mínima de erro. Não adoecem, não tem problemas familiares e nem chegam atrasados. Cumprem em tempo recorde o que o jovem advogado levaria dias.

Surpreende-me o fato de não termos tido conversas mais aprofundadas sobre os impactos dessa tecnologia, não na rotina dos escritórios, mas na profissão que é exercida por seres humanos. Curiosamente, a OAB estimula o uso da tecnologia, como se fosse panaceia, inclusive oferecendo cursos para ensinar a manipular a novidade. É interessante este ponto, pois a entidade incentiva o uso de ferramentas que estão tomando lugar de seus associados, daqueles que deveria proteger.

Estas tecnologias são diariamente aperfeiçoadas visando, é claro, assumir novas e mais tarefas. Em paralelo, os cursos de Direito seguem em funcionamento e os estudantes atrás de uma promessa que, se cumprida, a aprovação no exame da Ordem e o direito de exercer a profissão, o colocará numa nova arena de luta, agora para disputar a sua vaga com robôs.

O direito é uma disciplina de humanas. A pergunta que cabe e que deixo para reflexão: até quando?

Roberto Parentoni

Roberto Parentoni

Dr. Roberto Parentoni é advogado criminalista desde 1991 e fundador do escritório Parentoni Advogados. Pós-graduado pela Faculdade de Direito da Universidade Mackenzie, é especialista em Direito Criminal e Processual Penal, com atuação destacada na justiça estadual, federal e nos Tribunais Superiores (STJ e STF). Ex-presidente do Instituto Brasileiro do Direito de Defesa (IBRADD) por duas gestões consecutivas, é também professor, autor de livros jurídicos e palestrante, participando de eventos e conferências em todo o Brasil.