Dr. Roberto Parentoni, advogado criminalista

A palavra é sangue e oxigênio para o advogado; mutilado nas palavras, o advogado é pássaro de asas partidas, um condor sem alturas, uma águia sem espaço.

É ferramenta de trabalho, arma de combate – e porque não dizer – a sua própria vida, eis que através da palavra, o causídico luta o bom combate, quer na argumentação lógica pela vitória da tese, quer na defesa do direito conspurcado, e quer ainda no ataque estratégico à pretensão adversária.

O nono mandamento do Decálogo de Sto. Ivo – considerado o primeiro tratado de deontologia jurídica – preceituava que, para fazer uma boa defesa, o advogado deve ser verídico, sincero e lógico.

Nenhum advogado poderá cumprir a sua missão sem manejar, com destreza, agilidade, ciência e honra, a sua arma fundamental – a palavra.

Com ela, e por seu intermédio, é o advogado o defensor lídimo da legalidade e da liberdade. As tábuas de sua vocação, no dizer de Rui Barbosa: “Não desertar a justiça, nem cortejá-la. Não lhe faltar com a fidelidade, nem lhe recusar o conselho. Não transfugir da legalidade para a violência, nem trocar ordem pela anarquia. Não se subtrair à defesa das causas impopulares, nem às das perigosas, quando justas.”

Mais do que qualquer outra profissão, a do advogado é a que exige, com maior rigor, o paradigma da honestidade, e a tal ponto que Abraham Lincoln chegou a dize: “Se você não pode ser advogado e honesto, que seja honesto, sem ser advogado.”

O direito, ensina Edmundo Nascimento, é a profissão da palavra, e o advogado precisa, mais do que qualquer outro profissional, saber inverter esse capital com conhecimento, tática e habilidade.

O primeiro advogado foi o primeiro homem, que com a influência da razão e da palavra, defendeu seus semelhantes contra a injustiça, a violência e a fraude.

Foi na Grécia, o berço da advocacia, proclama Rui Sodré, onde a defesa dos oradores marcou a fase áurea na cultura helênica e mundial, citando Demóstenes, Péricles e Sócrates como luminosos expoentes do período histórico.

Porém, foi em Roma, que a advocacia desvestiu-se de suas famosas roupagens de eloquência, para assentar-se dentro de princípios técnico-jurídicos.

Há algo de sacrossanto na palavra do advogado, e em tal intensidade que o Ministro Ribeiro da Costa, quando Presidente do Supremo Tribunal Federal, chegou a dizer: “Só uma luz nesta sombra, nesta treva, brilha intensa nos seio doa autos! É a voz da defesa, a palavra candente do advogado, a sua lógica, a sua dedicação e seu cabedal de estudo, de análise e de dialética! Onde for ausente a sua palavra, não haverá justiça, nem lei, nem liberdade, nem honra, nem vida! Bendita seja a defesa!”

Também Pedro Vergara arrolou os tributos que devem compor o perfil do advocatus: “precisa ser um homem de aço, deve dispor de uma têmpera em que haja, ao mesmo tempo, o vigor de um Hércules, a coragem de um herói, a delicadeza de um diplomata, a onisciência de sábio e sobretudo, a paciência de um santo…”

O Papa Paulo VI, recebendo advogados no Vaticano, proferiu alocução intitulada Um homem em busca da Verdade, onde S. Santidade afirmou que o advogado assiste, aconselha, defende.

O grande advogado Sobral Pinto, defendendo a tese de que todo homem tem direito à palavra de defesa, acentuou: “Deus que tudo sabe, e tudo pode, antes de proferir a sua sentença contra Caim, que acabava de derramar o sangue de seu irmão, quis ouvi-lo, como narra explicitamente a Sagrada Escritura, dando aos homens, com este exemplo, a indicação irremovível de que o direito de defesa, é, entre todos, o mais sagrado e inviolável.” (A Revolução da Palavra, 1977, Pedro Paulo Filho, p.147)

Débora Parentoni

Débora Parentoni

Prof.ª Débora Cavalcante Parentoni é Diretora Administrativa do escritório Parentoni Advogados, Coordenadora do Projeto Pro Bono Antônio Aurélio Soares (AAS), Pedagoga formada pela Faculdade Maria Montessori, fundadora do Instituto Brasileiro do Direito de Defesa (IBRADD), onde atuou como Secretária-Geral por duas gestões.