Dr. Bruno Parentoni, Dr. Roberto Parentoni e Dr. Luca Parentoni | Parentoni Advogados

A Justiça Como Espetáculo: O Jogo da Imparcialidade

Roberto Parentoni

Primeiro Ato: O Palco da Justiça

Imagine-se em um tribunal. Não se trata apenas de um ambiente formal, mas de um palco, onde cada palavra e gesto são cuidadosamente encenados. O juiz, com sua toga e expressão impassível, se torna o diretor desse espetáculo. O advogado, que deveria ser o defensor da verdade, muitas vezes se vê forçado a interpretar um papel diante do público. O promotor de acusação, por sua vez, frequentemente se coloca como a voz da moralidade pública, buscando aprovação mais do que justiça. O réu, muitas vezes, parece ser apenas um coadjuvante, com sua história já escrita antes mesmo de a sentença ser pronunciada. A plateia, representando a sociedade, espera respostas rápidas e certezas, sem se importar com os detalhes, as falhas ou as entrelinhas do sistema. A verdadeira justiça? Ela se perde no meio do espetáculo.

Segundo Ato: O Papel de Cada Parte

Nos tribunais, o processo se desenrola como uma grande performance. O advogado, muitas vezes, se vê pressionado a usar artifícios e palavras impactantes para convencer a plateia. O promotor, com seu discurso inflado, tenta construir um vilão a partir de estereótipos, frequentemente mais focado em sua imagem pública do que na busca pela justiça verdadeira. O juiz, por sua vez, enfrenta o dilema de equilibrar o peso da lei e as expectativas do público. O réu, em sua aflição, percebe que sua sorte já está decidida, antes mesmo de o veredito ser proclamado. Ele não é mais visto como um sujeito de direito, mas sim como um personagem em um enredo já estabelecido. E a mídia, com seus holofotes, determina o que será considerado justiça. O espetáculo se sobrepõe à busca pela verdade.

Terceiro Ato: O Processo em Busca de Justiça

Embora o tribunal possa parecer um jogo de interesses e personagens, há uma pequena janela onde a verdade ainda pode ser encontrada. Não é uma peça rara, mas uma oportunidade real para corrigir um erro que pode ser cometido no processo. O sistema, embora imperfeito, ainda oferece alternativas legais e recursos, como o apelo a um julgamento justo. Em muitos casos, esses recursos, mesmo que menos frequentes, podem ser o ponto de inflexão para garantir que a justiça seja feita de forma transparente e equânime. A luta pela liberdade e pelos direitos fundamentais não se resume a um espetáculo. Ela é uma resistência ao sistema que, embora muitas vezes falho, ainda pode corrigir suas falhas quando desafiado de forma correta e fundamentada.

Epílogo: A Busca pela Verdadeira Justiça

A verdadeira justiça não precisa de palcos, de holofotes ou da aprovação da plateia. Ela precisa de imparcialidade, reflexão profunda e coragem para agir conforme a lei, não o que a sociedade exige momentaneamente. No Brasil, a justiça às vezes se transforma em um show, mas é nosso dever como sociedade, e como advogados, resgatar a verdadeira missão da justiça: ser imparcial, justa e independente da pressão externa. A justiça não deve se submeter ao aplauso ou à condenação rápida, mas à busca pela verdade, mesmo que essa verdade leve mais tempo para ser alcançada.

Fraterno abraço,
Roberto Parentoni
Advogado Criminalista